Análise Educação Brasileira

por João Cláudio Nunes Carvalho

Análise de Políticas Públicas de Educação no Brasil: Indicadores Nacionais e Internacionais

Introdução

As políticas públicas educacionais são fundamentais para o desenvolvimento de um país. No Brasil, diversas iniciativas governamentais têm sido implementadas ao longo das últimas décadas para melhorar a qualidade e o acesso à educação. Esta análise apresenta um panorama dos principais indicadores e dados sobre a educação brasileira, abrangendo tanto a educação básica quanto o ensino superior.

Para compreender o cenário educacional brasileiro, é essencial analisar tanto indicadores nacionais como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), dados do Censo Escolar e do Censo da Educação Superior, quanto os indicadores internacionais como PISA, TIMSS e PIRLS, que permitem uma comparação do desempenho do Brasil no contexto global.

Principais desafios da educação no Brasil:

  • Universalização do acesso à educação básica
  • Redução das desigualdades regionais e socioeconômicas
  • Melhoria da qualidade do ensino
  • Valorização dos profissionais da educação
  • Ampliação do acesso ao ensino superior
  • Elevação dos indicadores internacionais de desempenho educacional

Panorama Geral da Educação no Brasil

47,3 milhões

Estudantes matriculados na educação básica em 2023

178,5 mil

Escolas de educação básica

8,6 milhões

Estudantes no ensino superior

Segundo os dados do Censo da Educação Superior de 2023, o Brasil possui 2.580 instituições de ensino superior, sendo 87,8% (2.264) privadas e 12,2% (316) públicas. Na educação básica, o Censo Escolar 2023 indica que o país tem 47,3 milhões de estudantes distribuídos em 178,5 mil escolas.

No que diz respeito à distribuição regional das instituições de ensino superior, a região Sudeste concentra a maior parte, com 1.093 instituições, seguida pelo Nordeste (604), Sul (396), Centro-Oeste (290) e Norte (197).

IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi criado em 2007 e reúne, em um só indicador, os resultados de dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O IDEB é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Importante:

O índice varia de 0 a 10. A meta para 2022 era alcançar média 6 – valor que corresponde a um sistema educacional de qualidade comparável ao dos países desenvolvidos.

O IDEB é a principal ferramenta para acompanhamento das metas de qualidade para a educação básica. A combinação entre fluxo e aprendizagem tem o mérito de equilibrar as duas dimensões: se um sistema de ensino retiver seus alunos para obter resultados de melhor qualidade no Saeb, o fator fluxo será alterado, indicando a necessidade de melhoria do sistema.

Censo Escolar e Educação Básica

O Censo Escolar é o principal instrumento de coleta de informações da educação básica e a mais importante pesquisa estatística educacional brasileira. Em 2023, os resultados revelam aspectos importantes sobre a distribuição dos alunos nas diferentes etapas de ensino.

Etapa de Ensino Total de Matrículas (2023) Rede Pública (%) Rede Privada (%)
Educação Infantil 9,2 milhões 72% 28%
Ensino Fundamental 26,1 milhões 82% 18%
Ensino Médio 7,7 milhões 85% 15%
Educação de Jovens e Adultos (EJA) 3,1 milhões 98% 2%
Educação Profissional 1,2 milhão 44% 56%

O ensino em tempo integral vem crescendo nos últimos anos. Segundo o Censo Escolar 2023, houve um aumento significativo nas matrículas em tempo integral, o que reflete os esforços de políticas públicas para ampliação da jornada escolar.

Avaliações Internacionais

As avaliações internacionais são ferramentas fundamentais para comparar o desempenho educacional entre diferentes países e identificar boas práticas e áreas que precisam de melhoria. O Brasil participa de diversas avaliações internacionais, sendo as principais o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o TIMSS (Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências) e o PIRLS (Estudo Internacional de Progresso em Leitura).

PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes

O PISA é uma avaliação internacional coordenada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que mede a capacidade de jovens de 15 anos em aplicar seus conhecimentos em leitura, matemática e ciências para resolver problemas da vida real. É realizado a cada três anos, sendo a edição mais recente a de 2022.

365 pontos

Matemática (65º lugar entre 81 países)

410 pontos

Leitura (52º lugar entre 81 países)

403 pontos

Ciências (62º lugar entre 81 países)

Principais resultados do PISA 2022:

  • 73% dos estudantes brasileiros ficaram abaixo do nível 2 em matemática (média OCDE: 31%)
  • 50% dos estudantes ficaram abaixo do nível 2 em leitura (média OCDE: 26%)
  • 55% dos estudantes ficaram abaixo do nível 2 em ciências (média OCDE: 24%)
  • Apenas 1% dos estudantes brasileiros atingiu os níveis 5 ou 6 em matemática (média OCDE: 9%)

O desempenho do Brasil no PISA 2022 manteve-se estável em relação ao de 2018, sem mudanças significativas nas três áreas avaliadas. Embora tenha havido um pequeno avanço nas posições do ranking, o país continua com resultados significativamente abaixo da média dos países da OCDE.

TIMSS – Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências

O TIMSS é uma avaliação internacional que mede o desempenho de estudantes do 4º e 8º anos do Ensino Fundamental em matemática e ciências. É realizado a cada quatro anos pela Associação Internacional para a Avaliação do Desempenho Educacional (IEA). O Brasil participou pela primeira vez desta avaliação em 2023.

4º ano do Ensino Fundamental

Matemática: 400 pontos (Média internacional: 503)
Ciências: 425 pontos (Média internacional: 494)

51% dos estudantes brasileiros não alcançaram nem o nível mais baixo da escala em matemática; 39% ficaram abaixo do nível baixo em ciências.

8º ano do Ensino Fundamental

Matemática: 378 pontos (Média internacional: 478)
Ciências: 420 pontos (Média internacional: 478)

62% dos estudantes brasileiros não alcançaram nem o nível mais baixo da escala em matemática; 42% ficaram abaixo do nível baixo em ciências.

Em ambos os anos escolares e disciplinas avaliadas, o Brasil apresentou um desempenho significativamente abaixo da média internacional. Apenas 1% dos estudantes brasileiros atingiu o nível máximo de proficiência em matemática e ciências nas duas séries avaliadas.

PIRLS – Estudo Internacional de Progresso em Leitura

O PIRLS é uma avaliação internacional que mede as tendências do desempenho em leitura de estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental, realizada a cada cinco anos. O Brasil participou do PIRLS 2021, que avaliou a compreensão leitora de alunos em 65 países e regiões.

419 pontos

59º lugar entre 65 países/regiões

38,4%

Estudantes abaixo do nível básico

13%

Estudantes proficientes (níveis alto e avançado)

Nível de Proficiência Pontuação % de Estudantes Brasileiros Descrição
Abaixo do Básico Abaixo de 400 38,4% Não dominam habilidades elementares de leitura
Básico 400 a 474 23,8% Recuperam informações explícitas simples
Intermediário 475 a 549 24,7% Fazem inferências diretas e interpretam informações
Alto 550 a 624 11,0% Integram ideias e informações
Avançado 625 ou mais 2,1% Interpretam e integram textos complexos

Desigualdades no desempenho:

  • Gênero: Meninas (431 pontos) tiveram desempenho superior aos meninos (408 pontos)
  • Raça: Estudantes brancos e amarelos (457 pontos) tiveram desempenho superior a pretos, pardos e indígenas (399 pontos)
  • Socioeconômico: A diferença entre estudantes de alto NSE e baixo NSE foi de 156 pontos (1,5 desvio-padrão)

O desempenho brasileiro foi superior apenas ao da Jordânia (381), Egito (378), Marrocos (372) e África do Sul (288). Para comparação, países como Singapura (587), Hong Kong (573) e Rússia (567) lideraram o ranking, enquanto Portugal (504) e Espanha (522) também alcançaram resultados bem acima da média brasileira.

Análise Comparativa das Avaliações Internacionais

Os resultados do Brasil nas três principais avaliações internacionais (PISA, TIMSS e PIRLS) revelam um cenário preocupante para a educação brasileira no contexto global. Em todas as avaliações, o país apresenta desempenho significativamente abaixo das médias internacionais e ocupa posições nas últimas colocações nos rankings.

Pontos Críticos

  • Alta porcentagem de estudantes brasileiros abaixo do nível básico de proficiência em todas as avaliações
  • Baixa proporção de estudantes com desempenho de excelência (níveis avançados)
  • Desigualdades socioeconômicas, raciais e de gênero impactando fortemente os resultados
  • Estagnação dos resultados ao longo dos anos, sem melhoria significativa
  • Defasagens pronunciadas em matemática, com os piores resultados entre as áreas avaliadas

Desafios para Políticas Públicas

  • Elevar a qualidade do ensino básico, especialmente nas áreas de matemática e ciências
  • Reduzir as desigualdades socioeconômicas no acesso à educação de qualidade
  • Investir na formação e valorização dos professores
  • Desenvolver currículos mais alinhados com as competências avaliadas internacionalmente
  • Garantir que todos os estudantes adquiram ao menos as habilidades básicas
  • Implementar estratégias pedagógicas que estimulem o pensamento crítico e a resolução de problemas

Ensino Superior

O Censo da Educação Superior, realizado anualmente pelo INEP, é o instrumento de pesquisa mais completo do Brasil sobre as instituições de educação superior. Os dados de 2023 mostram um panorama detalhado desse nível de ensino no país.

2.580

Instituições de ensino superior no Brasil

87,8%

Instituições privadas

24,6 milhões

Vagas oferecidas em cursos de graduação

Crescimento da Educação a Distância (EaD)

Um dos dados mais significativos do Censo da Educação Superior 2023 é o expressivo crescimento da modalidade EaD. O número de cursos a distância aumentou 232% em cinco anos (2018-2023).

  • 2018: 3.177 cursos EaD
  • 2023: 10.554 cursos EaD

As taxas de escolarização no ensino superior também apresentam avanços, embora ainda aquém das metas do Plano Nacional de Educação (PNE). Em 2023, a taxa bruta de matrícula na educação superior foi de 40,5% e a taxa líquida de 21,6%, enquanto as metas para 2024 são de 50% e 33%, respectivamente.

Programas Educacionais

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica

O FUNDEB foi instituído como instrumento permanente de financiamento da educação pública por meio da Emenda Constitucional n° 108, de 27 de agosto de 2020. É a principal fonte de financiamento da educação básica pública brasileira.

R$ 287,4 bilhões

Estimativa da receita total do FUNDEB para 2024

R$ 5.447,98

Valor anual mínimo por aluno (VAAF-MIN) em 2025

A complementação da União ao FUNDEB será em três modalidades, com a Complementação-VAAF (Valor Aluno Ano FUNDEB) estimada em R$ 26,9 bilhões para 2025. O valor aluno ano total mínimo nacional (VAAT-MIN) foi estabelecido em R$ 8.006,05.

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

O PNAE oferece alimentação escolar e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica pública.

Valores per capita do PNAE (2023):

  • Creches: R$ 1,07
  • Pré-escola: R$ 0,53
  • Escolas indígenas e quilombolas: R$ 0,64
  • Ensino fundamental e médio: R$ 0,36
  • Educação de jovens e adultos: R$ 0,32
  • Para estudantes em tempo integral: R$ 1,37

Destaca-se que a aquisição de alimentos da agricultura familiar para o PNAE tem apresentado evolução crescente, com a média nacional subindo de 37% em 2019 para 45% em 2022, superando o mínimo de 30% estabelecido na legislação.

PNLD – Programa Nacional do Livro e do Material Didático

O PNLD é destinado à aquisição e à distribuição de livros aos alunos da educação básica pública. É um dos mais antigos programas voltados à distribuição de obras didáticas no país.

102,5 milhões

Exemplares distribuídos em 2023

30,7 milhões

Alunos beneficiados (81% da rede pública)

O PNLD tem como objetivo avaliar e disponibilizar obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, para atender às necessidades de todas as etapas da educação básica pública.

ENEM e Acesso ao Ensino Superior

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é uma das principais portas de entrada para o ensino superior no Brasil, sendo utilizado como critério de seleção por instituições públicas e privadas.

Resultados ENEM 2024

  • Média geral: 546 pontos (aumento de 3 pontos em relação a 2023)
  • Nota média na redação: 660 pontos (aumento de 15 pontos em relação a 2023)
  • Notas entre 980 e 1.000: 2.308 participantes (215 da rede pública)
  • Notas entre 950 e 980: 31.913 participantes (4.483 da rede pública)

Transição Ensino Médio → Superior

Percentual de concluintes do Ensino Médio que ingressam no Ensino Superior no ano seguinte (2022):

  • Média geral: 27%
  • Escolas federais: 58%
  • Escolas estaduais: 21%
  • Escolas privadas: 59%
  • Escolas urbanas: 27%
  • Escolas rurais: 16%

Desigualdades no Acesso ao Ensino Superior

Os dados mostram persistentes desigualdades no acesso ao ensino superior conforme raça/cor:

  • Estudantes brancos: 37% ingressam no ensino superior
  • Estudantes pardos: 20% ingressam no ensino superior
  • Estudantes pretos: 17% ingressam no ensino superior
  • Estudantes indígenas: 12% ingressam no ensino superior

Esses dados evidenciam a necessidade contínua de políticas públicas que promovam a equidade no acesso ao ensino superior, especialmente para grupos historicamente marginalizados.

Desafios e Perspectivas

Apesar dos avanços observados nos últimos anos, a educação brasileira ainda enfrenta diversos desafios que precisam ser superados para alcançar as metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE).

Principais Desafios

  • Atingir as metas do PNE: Das 20 metas estabelecidas, poucas foram alcançadas integralmente
  • Reduzir as desigualdades regionais: Grandes disparidades entre regiões, especialmente Norte e Nordeste em comparação com Sul e Sudeste
  • Ampliar o acesso ao ensino superior: A taxa líquida de 21,6% ainda está distante da meta de 33%
  • Melhorar a qualidade da educação básica: O IDEB ainda não atingiu a meta 6 estabelecida para 2022
  • Elevar o desempenho nas avaliações internacionais: Resultados muito abaixo das médias internacionais em PISA, TIMSS e PIRLS
  • Valorizar os profissionais da educação: Salários, formação continuada e condições de trabalho
  • Ampliar o financiamento da educação: Garantir recursos suficientes para implementação das políticas educacionais

Perspectivas e Oportunidades

  • Expansão do ensino em tempo integral: Tendência crescente que pode melhorar a qualidade da educação
  • Crescimento da educação a distância: Potencial para democratizar o acesso ao ensino superior
  • Fortalecimento do FUNDEB: Agora permanente, pode garantir recursos mais estáveis para a educação básica
  • Políticas de inclusão: Ações afirmativas que buscam reduzir desigualdades no acesso e permanência
  • Educação profissional: Potencial para melhorar a qualificação e empregabilidade dos jovens
  • Parcerias público-privadas: Colaboração para ampliar investimentos e inovações em educação
  • Aprendizado com experiências internacionais: Adoção de práticas pedagógicas bem-sucedidas de outros países

Conclusão

A análise dos dados sobre políticas públicas de educação no Brasil revela avanços significativos nas últimas décadas, como a quase universalização do acesso ao ensino fundamental, o aumento do número de matrículas no ensino médio e superior, e a implementação de programas importantes como FUNDEB, PNAE e PNLD.

No entanto, os desafios persistem, especialmente no que se refere à qualidade da educação, às desigualdades regionais e socioeconômicas, e ao cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação. Os resultados das avaliações internacionais, como PISA, TIMSS e PIRLS, revelam que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para alcançar padrões internacionais de qualidade educacional.

É fundamental que as políticas públicas educacionais continuem sendo fortalecidas e aprimoradas, com base em evidências e indicadores, para garantir uma educação de qualidade para todos os brasileiros. O país precisa não apenas focar no acesso à educação, mas também na qualidade do ensino oferecido, na formação e valorização dos professores e na redução das desigualdades.

Reflexão Final

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” – Nelson Mandela

Referências

Análise de Políticas Públicas de Educação no Brasil: Indicadores Nacionais e Internacionais

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João Cláudio Nunes Carvalho